28 maio 2005

Intolerância - parte 2

A irritação foi-me passando, à medida que fui tratando
dos assuntos em questão. Banco, Segurança Social, EDP, Correios.
Havia filas em todos os balcões, mas não eram muito grandes.
Quando cheguei aos Correios (ou será CTT?) já me tinha passado
a neura. Estavam quatro pessoas à minha frente.
Os segundos da fila eram dois homens de meia idade, nitidamente eslavos.
Altos, loiros, maçãs do rosto salientes, olhos claros.
Quando chegou a vez deles, expressaram-se num português fluente, de pronúncia carregada.
Tiraram os passaportes. Eram búlgaros a enviar dinheiro, provavelmente ganho nas
obras, para as suas famílias. Colocaram as notas no balcão, deram direcções, pagaram. Despediram-se com um boa tarde e obrigado simpáticos, dirigidos à funcionária.
A rapariga, nos 25-30 anos, não respondeu e chamou o número seguinte.
A senhora à minha frente encosta-se ao balcão com um maço de envelopes para enviar.
A funcionária comenta em voz alta, dirigindo-se a todos, e a ninguém:
"Tanto português desempregado e vêm estes tirarem-nos os empregos!"
Ninguém faz comentários. Nem funcionárias, nem clientes.
Chega a minha vez, entregos os envelopes e os resgistos. Enquanto aguardo, observo
a rapariga. Jovem, ar de enfado, nome na lapela. MELLANIE COSTA. Nome tipicamente português.
Português de França, da Suiça, Luxemburgo, ou Bélgica. Países para onde milhares de beirões
emigraram nas últimas quatro décadas, à procura de trabalho. De uma vida melhor.
Países onde foram recebidos umas vezes mal, outras melhor. País onde, provavelmente,
esta candidata a xenéfoba nasceu.



O que se passa com este país à beira mar "prantado"?
De onde vem esta intolerância ao diferente?
Não se tolera quem tem mais de dois filhos. Critica-se quem não tem nenhum.
Apontam-se a dedo os negros, os russos, os chineses, porque nos tiram trabalho.
Será trabalho? Ou empregos?

Irrrra!
Merecemos a %&# de país que temos! Os políticos que temos!
O buraco em que estamos!

Onde é que eu posso pedir asilo político?

11 comentários:

Anna^ disse...

Sabes Eva,às vezes fico envergonhada...por ver situações desse género;e eu q sempre achei q erámos um povo solidário...e somos...mas só qdo esse apelo vem c carisma mundial...pra fazer bonito...pra ver se crescemos perante os grandes...pobres vaidades!!!
Mais uma vez parabéns pelo post

bjokas ":o)

S.A. disse...

Pois é...

Esses tempos de solidariedade já lá vão....

Bjkas e vou voltar!!

Anónimo disse...

Como se os portugueses quisessem os empregos que os eslavos aceitam, e os ordenados... Quantos tugas dependem de esquemas de subsídios do Estado, Misericórdias, etc e evitam assim trabalhar? Quantos tugas trabalham nas obras, nas limpezas?

Portugal está a rejeitar estupidamente uma massa laboral qualificada, dedicada e empenhada que vem do Leste. E logo num país de emigrantes como o nosso...

Shame on us.

Raquel Vasconcelos disse...

Infelizmente estamos a "evoluir" como os outros países com excesso de xenofobia...

temos esta mania de copiar o q é mau.

Recordo-me de que em tempos de "chats" mas numa área mais específica (macs) me dei conta que a xenofobia existia, realmente e com força.

O grave... é que neste tipo de chats, polulam miúdos muito novos que absorvem tudo.

Ou seja... não basta a escola... em que as idades são aproximadas, passamos a ter locais frequantados por idades "mistas" que fazem declarações xenófobas, dando aos mais garoto ainda uma maior garantia de que a xenofobia é que é...

Mitsou disse...

Disseste bem, emprego enao trabalho. Oh, gentinha de espírito rasteiro! Beijinho grande e, a estas horas, votos de resto de domingo óptimo e uma semana em grande!

Tão só, um Pai disse...

Bom dia a todos.


O tema é complexo. Os temores colectivos que procuram bodes espiatórios para a sua infelicidade.

Raquel Vasconcelos disse...

Buns dias :*

AnaBond disse...

Quando souberes, avisa aqui a Je...

Misty disse...

1º ponto - quando souberes do sítio para pedir asilo, avisa...

2.º ponto - são os brandos costumes, onde se insere a xenofobia branda, a branda permissividade, enfim, tudo tão brando que faz lembrar a água das pedras branda - só dá vontade de vomitar (desculpa lá, mas hoje tou assim).

3.º ponto: lembro-me logo dos "estrangeiros" que vêm cá "roubar" os empregos e que vão para o interior e têm iniciativa empresarial, na maior parte dos casos, com eficácia, sem intervenção do estado português, sendo que por "intervenção" se deve ler "subsídio-dependência".

Quando é que estas bestinhas tão brandas abrirão os olhos?

Desculpa, hoje tou assim pro envinagrado...um beijito.
Obrigado pela visita!

Mitsou disse...

Beijocas, linda!

Raquel Vasconcelos disse...

Goooood moooooorning! :*